Tag Archives: copa

A Revista Manchete e seus 52 anos do Tri

Eu tinha 6 anos quando fui à banca de jornal com meu pai comprar esta edição especial, folheada e lida pela família, por amigos e parentes. Ela é uma recordação que fiz questão de guardar.

Futebol era uma ponte entre eu e meu pai. Ir ao Maracanã sempre me deu alegria, mesmo que ele tentasse me persuadir a não ir: “não é lugar pra uma menina”.
Teimosa, eu pedia a minha mãe para interceder. E lá ia eu viver aquele mundão:)

Cheguei a fazer embaixadinha. 1, 2 e 3 com pé esquerdo, afinal, meu pai era conhecido como “esquerdinha” em Natal,RG.
Ele me ensinou o que era o “corner”- escanteio, marcação, chute a gol, setor, lateral, defesa, o jogo de retranca, o ataque e a arbitragem.
Sim, foi difícil entender quando o juiz marcava impedimento.
Olhar não só pra bola, mas para o contexto. Quase um olhar budista.
Quando o jogo não era transmitido ou quando não íamos ao Maraca, o rádio era o som da casa. A voz dos locutores, dos comentaristas se misturavam com as frases e muxoxos do meu pai.
Ele era fã do João Saldanha – cronista, repórter, comentarista, botafoguense e um grande ser humano.
Ele lia as crônicas do João e eu ouvia ele comentando com minha mãe.
E lá ia eu tentar ler. Primeiro foi o jornal Última Hora e depois Jornal do Brasil. Difícil pra uma criança entender o linguajar futebolístico.
Assim foi a minha tentativa de estar perto do universo do meu pai que faleceu em maio de 1989. Ano que nosso time venceu o campeonato brasileiro depois de longo tempo.

Em 2017, eu fui ao lançamento do livro “João Saldanha – as 100 melhores crônicas” comentadas por Marcelo Guimarães, César Oliveira e Alexandre Mesquita.
Uma leitura que me fez rir (p.e. Pg 161) e entender seu olhar visionário sobre o futebol (pg 231). Entendi um pouco mais da onde vinha o sarcasmo de meu pai e sua paixão pelo futebol.

Hoje, quando peguei a revista de 1970 com tantos craques que conquistaram o tri campeonato mundial de futebol, numa época com tão pouca liberdade de expressão no país, pensei sobre a democracia e a distopia.
Os jogadores e os sonhos. O romantismo e os véus. O repertório no meio do campo e uma nação com olhos grudados querendo gol.

Estou assistindo os jogos da Copa, vibrando com a beleza e maestria de algumas seleções.
Torço com distanciamento.
É que eu venho de um tempo de desânimo e acabei de reiniciar um ciclo de alegria.
Optei sorrir para o futebol